terça-feira, 8 de abril de 2014

Childish Gambino - Uma evolução feita à sombra

O texto desta semana, vai para um músico de um estilo musical que muitas vezes é negligenciado mas que não deixa de ter as suas virtudes e a sua evolução. Para quem o ouviu, durante a última década, assistiu-se a uma progressiva entrada de outras sonoridades, como o piano, violino ou saxofone, por exemplo, que elevou o Hip-hop a um estilo diferente do habitual “beat and rhymes”. Quando falamos desta evolução vêm-nos à cabeça grandes nomes como Jay-Z ou Kanye West, mas são, talvez, os pequenos grandes nomes que melhor traduzem o potencial desta corrente musical. O nome que vos falo não é particularmente recente, lançou o seu segundo álbum “Because the Internet” em 2013 mas, face ao seu desconhecimento, apresento-vos Childish Gambino.
            Donald Glover, ou Childish Gambino no palco, é um actor e escritor afro-americano que se tem destacado como guionista premiado de séries como “30 Rock”. A influência que a enorme capacidade de escrita tem na sua música é visível em quase todas as canções. Donald não é um rapaz do gueto que faz do Hip-Hop a sua vida. Com um curso superior de artes da NYU (New York University) e o seu talento literário o enveredar por este estilo musical é feito por puro gosto. Sem histórias de gueto Donald está no Hip-hop por devoção. Para revolucionar. Talvez esse seja o seu maior valor.
          Após uma série de EP e um reconhecimento cada vez maior, Donald anuncia o seu primeiro álbum chamado “Camp” em 2011 sendo, dai, retirado o primeiro single Bonfire. Quem ouça este álbum vai, no mínimo, duvidar da descrição feita anteriormente. “They talking hood shit and I ain't know what that was about”, afirma em Outside, e a verdade é que tirando algumas excepções, como Firefly, All TheShine e L.E.S, onde tenta fugir ao tema, é mesmo essa a sensação que temos. Apesar de ser um bom álbum de Hip-hop, a evolução viria com “because the internet”.
            Para começar, Donald, assume a sua postura de guionista dando um registo cinematográfico às suas músicas e transformando o álbum numa história a ser ouvida e imaginada do princípio ao fim. É também neste disco que a tal evolução acima descrita e ligação com outros instrumentos é feita, veja-se a guitarra em The Worst Guys. Com um estilo muito mais experimental, fugindo à limitação do debitar rimas para o qual não possuía grande jeito, e apostando nos momentos certo em músicas mais lentas com mais soul, exemplo disso é Urn e Pink Toes. Muito parecido com Channel Orange de Frank Ocean em algumas fases.
            Resumindo é um excelente e inovador, em vários aspectos, álbum de Hip-hop que chega a agradar a quem não é grande fã do estilo. Requerendo apenas uma audição mais cuidada, do que aquela que habitualmente é dada a este género musical, para se perceber. Talvez seja essa pretensão a um apurar dos sentidos o seu contributo para a evolução.
            Sugestões: As músicas referidas encontram-se a azul com um link que os redireciona para as mesmas. Ainda assim, sugiro também Shadows e 3005.


Gonçalo Matos

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