quarta-feira, 28 de maio de 2014

UHF: Soltem o Rock Português, soltem os Cavalos de Corrida!


Num país agarrado à liberdade recentemente adquirida, assim como às cantigas da revolução, surge em Almada um grupo que viria a mudar o rumo da música em Portugal nos anos 80 que ficou conhecido por “Boom do Rock Português”. Hoje, uma lenda nacional, apresento-vos os UHF!
Começaram nos anos 70, numa altura em que o Punk conquistava a Inglaterra depois da febre dos Beatles, Led Zeppelin ou The Who, mas em Portugal, pouco de Rock se falava, mas ansiava-se por algo novo tanto política, social e culturalmente. António Manuel Ribeiro(voz e guitarra), Renato Gomes(guitarra), Carlos Peres(baixo) e Américo Manuel(bateria) constituem a primeira de várias formações dos UHF. Mas é esta a formação que lança o EP “O Jorge Morreu”, que apesar de não ter tido muito sucesso comercial, faz a banda correr o país inteiro de uma ponta a outra e tornar quase que um hino nacional um tema original que não tinha sido editado em estúdio, “Cavalos de Corrida” é um autêntica febre a nível nacional, chegando a ser tocada três vezes a pedido do público em vários concertos.
Os UHF não são só “Cavalos de Corrida”, após terem assinado contrato com a EMI – Valentim de Carvalho, temas como “Rua do Carmo”, “Rapaz Caleidoscópio” ou “Geraldine”. Em 1982, editam “Estou de Passagem” e abandonam a editora Valentim de Carvalho, confiantes que teriam sucesso mesmo estando numa editora de muito menor dimensão, porém a banda arrepende-se mais tarde desta arriscada decisão, sendo um total fracasso.
A vida de estrada e digressões, manteve no entanto os UHF continuam na ribalta e o vocalista António Manuel Ribeiro é visto como um Estrela Rock nacional e é visto por alguns como o Jim Morrison português.
Posteriormente, nos anos 90, lançam um grande tema. “Sarajevo”, uma canção escrita contra a guerra e acontecimentos terríveis que ocorreram nos territórios da antiga Jugoslávia, criticando fortemente as acções de violência e ódio étnico que tanto se fez notar neste conflito.
Vários são os temas desta grande banda portuguesa que iniciou em Portugal algo que não existia, e temas como “Na Tua Cama”, “Matas-me Com o Teu Olhar” ou “Puseste o Diabo em Mim” são alguns dos muitos desta banda que foi a primeira a provar que neste nosso Portugal à beira-mar plantado também se faz Rock&Roll!

Bernardo Mascarenhas

terça-feira, 27 de maio de 2014

Drenge - Os The Black Keys de Derbyshire

As razões que me levam a apresentar esta banda são três: em primeiro lugar porque foram recentemente confirmados na edição deste ano, do ainda Optimus Alive, sendo uma das várias estreias que o festival lisboeta nos irá proporcionar em Julho. Em segundo lugar, porque são uma banda que curiosamente, descobri através de um comentário visualizado no youtube num vídeo de uma atuação dos Royal Blood, banda que já aqui foi apresentada anteriormente. E por último, porque sigo com grande interesse e entusiasmo a cultura musical produzida no Reino Unido, em especial em Inglaterra onde cada vez mais surgem projetos interessantes capazes de fazer frente à indústria musical americana.

Justificações feitas, passo agora a falar-vos dos Drenge. Pois bem surgiram em 2011, e são eles dois irmãos britânicos naturais de Castleton, uma pequena vila pertencente ao distrito de High Peak que integra o condado de Derbyshire, Inglaterra. Eoin Loveless, Rory Loveless, guitarrista/vocalista e baterista respetivamente.



Em Inglaterra, os dois irmãos são conhecidos como os The Black Keys de Derbyshire
Sendo um duo que consiste apenas na guitarra e na bateria e sendo eles apelidados no meio musical como os The Blacks Keys de Derbyshire, é inegável que ao ouvirmos esta banda nos irá imediatamente soar aos já míticos The White Stripes e aos referidos The Black Keys. Talvez por esta razão este novo duo tenha como estilo musical o blues rock e o garage rock, havendo no entanto quem os classifique como uma banda de grunge/post grunge e punk rock.

O nome da banda, Drenge tem um significado interessante uma vez que surgiu do interesse dos dois irmãos pela Dinamarca em especial pelo movimento cinematográfico Dogma 95, originário deste país. Curiosamente, Drenge em linguagem dinamarquesa significa no idioma britânico boys, daí a razão para a escolha do nome por parte do grupo.

Este duo de irmãos, andou em digressão durante o ano de 2013 com os Peace, banda que se estreou em Portugal no último verão no festival Paredes de Coura e com o também duo californiano, Deap Vally abrindo os seus concertos. Tendo também aberto os concertos da banda The Cribs na Brixton Academy em Londres. Também as estreias em festivais aconteceram, neste caso no mítico Glastonbury onde deram um concerto que levou o público à loucura.

À semelhança dos também ingleses Alt-J e dos australianos Temper Trap editaram o seu primeiro disco: “Drenge” pela editora independente Infectious a 19 de Agosto de 2013. Tendo recebido críticas positivas por parte dos principais meios de comunicação ligados ao panorama musical, as revistas Clash e NME, classificaram-nos ambas com nota 8 em 10, também o britânico The Guardian o classificou com quatro estrelas.

Do álbum fazem partem doze faixas, que na sua maioria se classificam por fortes riffs de guitarra de Eoin Loveless e sempre com um tipo de letras bastante ligado à raiva e frustrações de um geração ainda jovem, em especial em temas como o amor. O The Guardian na review que fez ao disco refere que a banda aplica nas suas letras e títulos de músicas, temas e assuntos considerados de certa forma bizarros e um pouco violentos, sugerindo as músicas: “Dogmeat”, “Bloodsports” e “Gun Crazy”.
Seguindo um ritmo acelerado em todo o disco e uma lógica profundamente rock n’roll dura e crua, isso quebra-se nas duas últimas faixas: “Let’s Pretend e “Fuckabout” , onde a banda se apresenta numa realidade mais suave e intimista.
Este é sem dúvida um disco que merece ser escutado do início ao fim para conhecer em profundidade a realidade dos Drenge.

Os  Drenge escolheram como cenário para a capa do seu álbum, o Cemitério de Wardsend em Sheffield

Com presença garantida na edição deste ano do Optimus Alive, os dois irmãos irão tocar também no festival espanhol Benicassim seguindo depois por um digressão pelos EUA, regressando findalmente a Inglaterra para integrar o cartaz do Festival de Reading e Leeds.
Com o fim dos The White Stripes e com o crescimento dos The Black Keys, é cada vez mais evidente a ascensão de duplas que difundam e levem o garage e o blues rock ao lugar onde estes merecem estar.



João Fernandes

sexta-feira, 23 de maio de 2014

SirAiva

Esta semana trago-vos o novo artista sensação, SirAiva. Muitos podem pensar que SirAiva nasceu agora para a música, mas se esse é o vosso caso nem sabem o erro que estão a cometer!
Pedro Saraiva é músico, artista, produtor e reside na cidade do Porto. Desde muito novo que mostrou o seu interesse na música, dando o seu primeiro concerto ao vivo aos 14 anos com os "Culto da Ira". Contudo Saraiva apenas começa a sua primeira banda “a sério” (na qual é o vocalista e guitarrista) em 1986, os X-Position.
Mais tarde com os D.R.Sax, Saraiva grava e produz o seu primeiro álbum,“0670”, em Londres, em 1994. Este álbum dá origem ao primeiro grande êxito “Eu não meesqueci”, de tal forma estrondoso dando origem a uma grande exposição através das rádios, televisão e uma tour pelo país. Posteriormente em 1997, Saraiva volta com o segundo álbum de D.R.Sax - “Homem Objecto”. Finalmente em 2006, Saraiva fecha a era D.R.Sax com a compilação “10 Anos Depois”. 
No ano de 2010, lança o EP "Angel in Black" como DJ Pedro Saraiva. E no ano seguinte foi convidado a trabalhar com o DJ Rich formando Rich&Saraiva e lançam o single "If Love is always in the air". Portanto como podem ver Pedro é tudo menos inexperiente nestas andanças.
SirAiva é o retorno ao estilo disco e funk, é um regresso ao passado mas com um toque de modernidade difícil de encontrar. Para além das músicas acima citadas é absolutamente obrigatória a audição da música que o colocou no mapa em Portugal: “Brinca na Barriga”. Para esta faixa foi buscar o genial Pacman, ex-Da Weasel, que se enquadra na perfeição tanto na música como no videoclip.
Sobre Pacman é importante dizer que no mesmo ano (e com muito pouco tempo de diferença) consegue fazer parte dois projectos totalmente opostos (5-30 e SirAiva) atingindo em ambos o sucesso e vendo o seu trabalho sempre altamente elogiado. Quando ao talento se junta carisma e laivos de genialidade tudo se torna mais fácil.
Mas voltando à música do momento, em poucos dias o videoclip atingiu perto de 75 mil visualizações e tornou-se completamente viral através das redes sociais, o que demonstra bem o quão viciante se tornou para todos nós. Eu estou tão viciado que não passo um único dia sem a ouvir pelo menos umas cinco vezes!

Está prometido um álbum muito breve e por isso resta-nos esperar para constatar se SirAiva (que fantástico nome artístico meu Deus!) veio, ou não, para ficar! 


Bruno Neves


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ghost Stories - Uns Coldplay melancólicos

Muito separa Coldplay actual do que aquele que passou por Paredes de Coura em 2000. Dificilmente quem gostou de Parachutes, A Rush Of Blood To The Head ou mesmo X & Y vai gostar de Ghost Stories mas a vida continua e sem dúvida que os Coldplay também. Ghost Stories continua o afastamento do rock de Shiver, Politik ou God Put A Smile Upon Your Face ao mesmo tempo que se afasta (e MUITO) do animado Mylo Xyloto.
Reconhecendo que a fase rock está mais que enterrada, Ghost Stories sofre de um problema transversal a todo o álbum, salvo saudosas excepções, Midnight e Ghost Stories (disponível apenas na versão Deluxe), que se apresenta também como um imenso risco. É inteiramente dedicado à perda de um amor, seja na letra ou na melodia que a acompanha, todas as músicas remetem para uma perda inesperada e recordações amorosas. É impossível não fazer a ligação entre o disco e o recente divórcio do vocalista Chris Martin com a actriz Gwyneth Paltrow.
                Outra questão interessante, e que apenas poderá ser respondida aquando uma digressão será o espetáculo ao vivo. Aquela que foi para muitos a melhor banda ao vivo durante o tempo da digressão de Mylo Xyloto terá de puxar pelos galões para conseguir semelhante proeza com Ghost Stories. Com um disco melancólico na bagagem, dependeram os concertos dos clássicos ou assistiremos a uma nova surpresa?
Seja como for, e esperando como fã que este álbum seja apenas uma transição para algo melhor, existem músicas que têm toda a capacidade para se tornarem clássicos como Ink ou A Sky Full Of Stars.

Tal como em tudo, haverá quem ache este álbum bom e quem ache o álbum mau, principalmente os menos adeptos de música lamecha (no bom sentido do termo). Contudo, faltando um cabeça de cartaz para o Optimus Alive e, caso seja Coldplay, será principalmente os clássicos ou a curiosidade de como este álbum é apresentado que guiará as pessoas ao concerto.

Gonçalo Matos


terça-feira, 20 de maio de 2014

Deftones

Falo-vos hoje dos grandes, enormes, Deftones! A banda é composta por Chino Moreno, vocalist e guitarrista, Stephen Carpenter, guitarrista, Sergio Vega no baixo, Frank Delgado, o DJ, e Abe Cunningham como baterista. Infelizmente uma das maiores tragédias desta banda, levou o icónico baixista da formação original, Chi Cheng, a um coma, devido a um acidente de carro em 2008 (acabou por falecer em 2013). Mas falemos de coisas menos tristes, ora o nome, Deftones, fica no ouvido, é diferente, a fórmula foi juntar uma expressão utilizada por rappers americanos que Carpenter ouvia, esta sendo “Def” e o sufixo de muitas bandas dos anos 50 (The Quin-Tones, the Monotones, The Cleftones), mostrando a dualidade de estilos que os influenciaram e influenciam ainda hoje.
 Os Deftones são dentro do Nu-Metal, uma banda extremamente experimental, com guitarras super destorcidas, mais que manda a lei, com refrões possantes associados a um estilo mais “hiphopeano”.
 Esta banda tem das musicas mais tristes que conheço, Be Quiet and Drive (Far Away), oiçam para perceberem, no mínimo tocante, com uma constante guitarrada baloiçante entre o escuro e o desesperante. Associado a este estilo mais melancólico, triste,, temos outra música como a Sextape, que já agora, tem um videoclip viciante, muito bonito mesmo! Mas calma, banda nu-metal que os Deftone são, tem também musicas a abrir, para usar e abusar no volume, para saltar e possivelmente abanar a cabeça, caso não haja situação médica que o impossibilite. São músicas essas como Hexagram, encontra-se gritaria incluída nesta música, há também uma música mais a propósito do verão, de nome My Own Summer (Shove it). Mas há muita boa musica destes “meninos” ao longo dos seus álbuns, são todos uma referência na música rock, a meu ver. Talvez recomendasse o último álbum, Koi No Yokan e o White Pony, creio que são os mais emblemáticos.
 De apontar a presença em duas outras bandas, por parte de Chino Moreno, sendo vocalista também. Estas bandas são Team Sleep, e Crosses. Team Sleep é o projecto mais longínquo, enquanto que Crosses tem um álbum deste ano, se não estou em erro. Uma musicalidade muito, muito, própria, um self-service de definição musical. Vejam por vocês mesmos! 

Team Sleep- Formant. Crosses- This is a Trick 


Francisco Andrade







quinta-feira, 15 de maio de 2014

King Krule - O miúdo salvo pela música

Cada vez mais se considera Inglaterra, como um país em constante divulgação de jovens músicos, que depressa se tornam verdadeiros ícones da nova música britânica.

Archy Marshall, de nome artístico King Krule é um jovem natural de Londres que tem agitado a imprensa britânica, sendo apresentado como um dos novos talentos do Reino Unido.
Em 2010 e com apenas dezasseis anos sob o nome de Zoo Kid, lançou o seu primeiro single: “Out Getting Ribs”, que apanhou toda a gente desprevenida, e questionou como poderia um miúdo com aquela idade socorrer-se de uma guitarra e ter a capacidade de interpretar versos tão pessoais e intimistas, que nos levam a viajar num universo melancólico. Não tendo tido uma infância fácil, que ficou marcada pela sua expulsão da escola aos doze anos e pela pressão feita pelos seus pais que eram frequentemente ameaçados pelos serviços sociais por negligência. Archy encontrou como solução a escrita e a interpretação de temas musicais que de certa forma o caraterizavam e fizeram com que se libertasse da depressão e da raiva que sentia por tudo o que o rodeava.

Um ano depois (2011) e já sob o nome de King Krule lança o seu primeiro EP: “King Krule EP” onde podemos destacar The Noose of Jah City” e "Portrait in Black and Blue" como principais faixas a ser reproduzidas.
Em 2012 lança o single: “Rock Bottom”, que mais uma vez nos demonstra, o forte sentimento que o rapaz emprega no uso das palavras, apresentando-nos uma vez mais, uma letra emotiva, reflexo da infância nada fácil pela qual passou. Com o lançamento deste single podemos ainda escutar a música Octopus”, lado b do referido single. Nesse mesmo ano, destaque ainda para a estreia de King Krule em Portugal, desta feita na cidade do Porto na segunda edição do festival de inverno, Mexefest, onde deu um dos concertos mais aplaudidos do festival.

Mas é em 2013 e após integrar a lista da "BBC Sound of 2013" (uma lista que divulga os artistas promissores para o novo ano) que o ainda miúdo lança o seu primeiro álbum de estúdio. A 24 de Agosto e no dia do seu décimo nono aniversário “6 Feet Beneath The Moon”, chega às lojas com o selo da XL Recordings, editora que já lançou trabalhos de artistas como Adele, The White Stripes, The Prodigy, The XX, entre muitos outros.
Bastante apreciado pela crítica, A Time Out Londrina classificou-o com cinco estrelas, a revista americana Pitchfork deu-lhe uma classificação de 7.3 em 10 e a britância NME atribuiu-lhe um 8 como nota de avaliação.

Com um estilo sonoro, que oscila entre o indie, o funk ou o jazz, não é fácil definir o género musical praticado por Archy, muitos dizem que é o darkwave, devido ao seu estilo meio depressivo e sombrio. Agora é certo que o jazz é a grande influência do jovem e é daí que parte a sua inspiração, para outros géneros como o post-punk ou o hip hop.
Neste seu primeiro disco, King Krule integra canções que foram lançadas em EP’s anteriores e ainda sob o nome de Zoo Kid, mas nos novos temas permanece a sua voz rouca e forte e o estilo apático das letras, que o próprio classifica como um sentimento importante. Também a raiva e mágoa empregues na sua música o caraterizam, não tivesse ele dito à revista Pitchfork, que para si o importante era “pôr os sentimentos certos nas palavras certas”. Como faixas a destacar, a inicial “EasyEasy”, “Baby Blue”, “A Lizard State”, “Will I Come” “Ocean Bed”, “NeptuneEstate”, “Out Getting Ribs ou a fantástica “Little Wildapenas disponível na edição do álbum, japonesa.

Lançamento do seu álbum de estreia: "6 Feet Beneath The Moon"

Em palco King Krule faz-se acompanhar pela sua guitarra e os seus efeitos sintéticos, outra guitarra, e um baixo e uma bateria jazzy que dão o toque de jazz e hip hop à música interpretada por este jovem promissor artista. Que aos dezanove anos lançou o seu primeiro disco, disco esse que consegue ser uma obra-prima e um retrato do passado e do mundo que gira à volta de Archy Marshall e da sua cinzenta e escura rotina londrina.




 Texto de João Fernandes

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Salto e Denis

E passada uma semana estão de regresso as bandas portuguesas que vos vão conquistar tamanho é o seu talento.

Começamos pelos Salto. A vida de um músico pode nascer de várias formas, os Salto tiveram a sorte de nascer na mesma família e de desde cedo terem vivido a música em conjunto. Os primos portuenses Guilherme e Luís rapidamente perceberam que juntos poderiam ser uma banda. E apesar de para o público eles apenas aparecerem no final de 2011 (e com muito mais insistência a partir do ano seguinte) a verdade é que pisaram o palco pela primeira vez em 2006.


A 2 de Julho de 2012 editam o primeiro álbum do qual foi retirado o single que ainda hoje é um hit: “Deixar Cair”. Foi uma entrada de rompante no panorama musical português. Conseguiram contagiar tudo e todos marcando desde logo a sua posição, algo tão difícil quanto raro.

Seguiram-se muitos concertos de Norte a Sul do país, passando pelo Festival Optimus Alive, Festival Super Bock Super Rock, Festival Sudoeste TMN, Vodafone Mexe Fest, Festival Paredes de Coura e Queima das Fitas de Coimbra entre tantos outros (o que desde logo atesta a sua qualidade).

Muito recentemente presentearam-nos com um novo EP (de seu nome Beat Oven #01) que marcou o regresso da dupla nortenha. E se a estreia foi em português, o regresso foi em inglês. A sonoridade manteve-se fresca e contagiante e isso é o suficiente para nos conquistar à primeira audição.
Para além da faixa citada acima é impossível não ouvir também “Por ti demais”, “O teu par”, “Não vês futebol” ou o mais recente singleCan't you see me”.

Lembram-se do programa de televisão “A Voz de Portugal”? Pois, nem vocês nem ninguém. Mas o vencedor desse programa lançou há algum tempo a esta parte o seu primeiro álbum de originais.


Ele chama-se Denis e o álbum chama-se “Twist & Bend”. Teve produção de Armando Teixeira (esse mesmo, dos Balla) e a faixa “It’s Killing Me” foi o primeiro single de apresentação deste trabalho. O segundo single também já foi lançado e dá pelo nome de “Go Baby Go” sendo que todo o álbum pode ser ouvido no Spotify.

Seria de esperar que o facto de ter vencido um concurso televiso lhe desse projecção e mediatismo a rodos, mas infelizmente tal não aconteceu. Com tanto talento certamente que será apenas uma questão de tempo até conquistar o espaço que é seu por direito próprio no panorama musical nacional.

Bruno Neves

terça-feira, 6 de maio de 2014

Ray LaMontagne - O regresso de um (des)conhecido

Podem um excelente cantor passar completamente despercebido? Sem dúvida. Este é um dos casos? Afirmativo. Raymond Charles Jack LaMontagne, ou só Ray LaMontagne, é um cantor e compositor americano de 40 anos.
 Proveniente de uma família pobre de New Hampshire, a sua família separou-se quando ele nasceu e o pequeno Ray passou o início da sua vida a saltar de posto em posto, estabelecendo-se no Utah e partindo depois para o Maine. Por lá arranjou um emprego numa fábrica de sapatos e só se demitiu quando deu início à carreira de músico. Mas o que faz da música de Ray LaMontagne algo tão especial?
Para começar, uma voz diferente (rouca) daquilo que estamos habituados, resultado da técnica de respiração centrada no diafragma e não no nariz. Ray é aquele músico que ao 5º álbum já experienciou e experimentou bastante, apesar de reservado e raramente dar entrevistas ou interagir com o público entre músicas. Faz lembrar John Mayer, por vezes, capaz de acelerar ou imprimir um ritmo calmíssimo, tudo isso no mesmo disco.
O primeiro álbum, Trouble, lançado em 2004 apanhou todos de surpresa. Produzido por Ethan Johns, que se manteve como produtor até ao terceiro, apresentava-se como um disco folk fortemente apoiado na refrescante voz de Ray. Ganhou ainda mais notoriedade quando a música Trouble foi cantada no programa Ídolos americano. Deste, álbum retira-se também as belíssimas Narrow Escape e Hannah.
No segundo álbum, assistiu-se a uma mudança na sonoridade. Ray passou a incorporar violinos e violoncelos. O resultado foi uma aclamação geral por este registo mais “animado” de Till The Sun Turns Black (2006) com músicas como Three More Days e You Can Bring MeFlowers a terem uma excelente prestação nos tops.
O terceiro, e último álbum a ser produzido por Ethan Johns, foi aquele que mais sucesso alcançou até agora. Gossip in the Grain (2008), muda novamente o registo para um álbum intimista e muito mais calmo que o anterior. Músicas com I Still Care For You e Sarah são exemplos disso mesmo.
Em 2010, Ray produz pela primeira vez o seu próprio disco. Apoiado pela sua banda de tour, Pariah Dogs, God Willin' & The Creek Don't Rise, pode ser considerado um misto do que tinha feito até então. Possui musicas animadas que fazem lembrar Trouble, como Repo Man e Beg Steal or Borrow, e muito mais calmas como Are We Really Through. Apesar de tudo ganhou o grammy de melhor álbum folk contemporâneo. E depois puff. Durante quatro ninguém soube dele. Até 2014.
Já no final de 2013 começaram a surgir rumores de um novo álbum. No início do presente ano foi revelada a noticia. Ray estava a produzir com um dos produtores mais reconhecidos actualmente, Dan Auerbach, esse mesmo dos The Black Keys. Assim, Supernova, foi lançado a 19 de Abril. Mas que influencia pode ter Dan na música de Ray? Toda. Um álbum a fazer lembrar o saudoso Trouble, onde vemos Ray na sua melhor versão, mas com o acréscimo de solos de guitarra. O disco começa em velocidade máxima com Lavander, passando de uma sonoridade folk para blues rock. Segue-se Airwaves  para acalmar um bocado a excitação e She’s The One onde Ray leva a sua rouquice ao limite. De realçar também a música que dá nome ao disco Supernova.
É sempre bom puder ouvir artistas tão versáteis com Ray LaMontagne, sabendo que seja qual for o nosso estado de espirito, há de existir na sua discografia um disco que nos sirva, seja para tardes calmas com Gossip in The Grain ou mais mexidas com Supernova.

Face ao muito desconhecimento que por cá persiste, infelizmente, não é expectável que tenhamos oportunidade de assistir a um concerto dele em Portugal. Contudo, tendo em conta que The Black Keys são cabeça-de-cartaz do Optimus Alive, pode ser que Ray LaMontagne venha à boleia do seu produtor. Esperemos muito sinceramente que sim.


Gonçalo Matos