terça-feira, 6 de maio de 2014

Ray LaMontagne - O regresso de um (des)conhecido

Podem um excelente cantor passar completamente despercebido? Sem dúvida. Este é um dos casos? Afirmativo. Raymond Charles Jack LaMontagne, ou só Ray LaMontagne, é um cantor e compositor americano de 40 anos.
 Proveniente de uma família pobre de New Hampshire, a sua família separou-se quando ele nasceu e o pequeno Ray passou o início da sua vida a saltar de posto em posto, estabelecendo-se no Utah e partindo depois para o Maine. Por lá arranjou um emprego numa fábrica de sapatos e só se demitiu quando deu início à carreira de músico. Mas o que faz da música de Ray LaMontagne algo tão especial?
Para começar, uma voz diferente (rouca) daquilo que estamos habituados, resultado da técnica de respiração centrada no diafragma e não no nariz. Ray é aquele músico que ao 5º álbum já experienciou e experimentou bastante, apesar de reservado e raramente dar entrevistas ou interagir com o público entre músicas. Faz lembrar John Mayer, por vezes, capaz de acelerar ou imprimir um ritmo calmíssimo, tudo isso no mesmo disco.
O primeiro álbum, Trouble, lançado em 2004 apanhou todos de surpresa. Produzido por Ethan Johns, que se manteve como produtor até ao terceiro, apresentava-se como um disco folk fortemente apoiado na refrescante voz de Ray. Ganhou ainda mais notoriedade quando a música Trouble foi cantada no programa Ídolos americano. Deste, álbum retira-se também as belíssimas Narrow Escape e Hannah.
No segundo álbum, assistiu-se a uma mudança na sonoridade. Ray passou a incorporar violinos e violoncelos. O resultado foi uma aclamação geral por este registo mais “animado” de Till The Sun Turns Black (2006) com músicas como Three More Days e You Can Bring MeFlowers a terem uma excelente prestação nos tops.
O terceiro, e último álbum a ser produzido por Ethan Johns, foi aquele que mais sucesso alcançou até agora. Gossip in the Grain (2008), muda novamente o registo para um álbum intimista e muito mais calmo que o anterior. Músicas com I Still Care For You e Sarah são exemplos disso mesmo.
Em 2010, Ray produz pela primeira vez o seu próprio disco. Apoiado pela sua banda de tour, Pariah Dogs, God Willin' & The Creek Don't Rise, pode ser considerado um misto do que tinha feito até então. Possui musicas animadas que fazem lembrar Trouble, como Repo Man e Beg Steal or Borrow, e muito mais calmas como Are We Really Through. Apesar de tudo ganhou o grammy de melhor álbum folk contemporâneo. E depois puff. Durante quatro ninguém soube dele. Até 2014.
Já no final de 2013 começaram a surgir rumores de um novo álbum. No início do presente ano foi revelada a noticia. Ray estava a produzir com um dos produtores mais reconhecidos actualmente, Dan Auerbach, esse mesmo dos The Black Keys. Assim, Supernova, foi lançado a 19 de Abril. Mas que influencia pode ter Dan na música de Ray? Toda. Um álbum a fazer lembrar o saudoso Trouble, onde vemos Ray na sua melhor versão, mas com o acréscimo de solos de guitarra. O disco começa em velocidade máxima com Lavander, passando de uma sonoridade folk para blues rock. Segue-se Airwaves  para acalmar um bocado a excitação e She’s The One onde Ray leva a sua rouquice ao limite. De realçar também a música que dá nome ao disco Supernova.
É sempre bom puder ouvir artistas tão versáteis com Ray LaMontagne, sabendo que seja qual for o nosso estado de espirito, há de existir na sua discografia um disco que nos sirva, seja para tardes calmas com Gossip in The Grain ou mais mexidas com Supernova.

Face ao muito desconhecimento que por cá persiste, infelizmente, não é expectável que tenhamos oportunidade de assistir a um concerto dele em Portugal. Contudo, tendo em conta que The Black Keys são cabeça-de-cartaz do Optimus Alive, pode ser que Ray LaMontagne venha à boleia do seu produtor. Esperemos muito sinceramente que sim.


Gonçalo Matos



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