quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O fenómeno: Arctic Monkeys

Foi há aproximadamente doze anos que quatro adolescentes britânicos, naturais de Sheffield, mais concretamente do subúrbio de High Green, criaram uma das mais importantes bandas de Indie Rock de sempre, os Arctic Monkeys, que se juntaram a uma geração de nomes como Bloc Party, The Libertines, Franz Ferdinand, The White Stripes ou The Strokes.

Datava o ano de 2001, mais concretamente na época natalícia, quando os dois vizinhos Alex Turner e Jamie Cook são presenteados com duas guitarras elétricas. O passo seguinte seria encontrar os restantes membros do grupo, capazes de formar uma banda. Alex Turner assume o papel de guitarrista, liricista e vocalista do grupo, fruto da sua desde sempre, facilidade com as letras e palavras, enquanto Jamie Cook se encarrega também ele da guitarra. Os restantes membros seriam Andy Nicholson, que assumiu o papel de baixista e Matthew Helders, que com raízes musicais assenta no papel de baterista, por ser o único instrumento que restava.  

Os quatro jovens gravaram dois EP’s,”Five Minutes With Arctic Monkeys” (2005) e “Who The Fuck Are Arctic Monkeys?” (2006), donde se destacam importantes faixas como “Fake Tales of San Francisco”, “From the Ritz to The Rubble”, ou “The View From The Afternoon”, que depressa se tornam hits entre os amigos e público, que os segue nos vários gigs entre Pubs e Clubes locais. Os fãs, sem o conhecimento da banda, criam um perfil no Myspace, onde colocam as faixas dos dois EP’s, aumentando assim a notoriedade dos Arctic Monkeys, que ainda sem editora, se tornam um fenómeno no Reino Unido e colocam a cidade de Sheffield no mapa musical.
A banda no ano de 2005, quando ainda contava com o baixista Andy Nicholson.

A 23 de janeiro de 2006, a banda lança o seu álbum de estreia: Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not pela editora Domino Records. Com letras fortes e dançáveis que ilustram as noites vividas pelos jovens e amigos nos vários pubs de Sheffiled, surgem temas como “I Bet You Look Good On The Dancefloor”, “When The Sun Goes Down”, singles que alcançam o número um do Top Britânico. O álbum quebra recordes e torna-se no disco que mais rapidamente foi vendido no Reino Unido, alcançando as 360 mil cópias, apenas na sua primeira semana de vendas. Fruto deste grande sucesso de vendas, a banda vence o seu primeiro grande galardão, o cobiçado Mercury Prize, onde conseguiram levar a melhor sobre bandas como Muse, Editors ou artistas como Thom York e Richard Hawley, vencendo ainda outros prémios e nomeações da imprensa britânica e imprensa internacional. Ainda nesse ano, iniciam a sua primeira digressão internacional pela Europa, tocando nos principais palcos de festivais como T in The Park, Reading/Leeds, ou Oxegen. No dia 18 de maio estreiam-se em Portugal, mais concretamente na antiga discoteca Paradise Garage, num concerto esgotado e bastante intenso que marca o fim da tour europeia e se destaca por ser o último concerto de Andy Nicholson, que alegando fadiga abandona a banda. Nick O’Malley sucede a Nicholson, e segue com a banda para primeira digressão pelos EUA.

No ano seguinte, lançam o segundo álbum “Favourite Worst Nightmare” (2007) que contou com a produção de James Ford, músico dos Simiam Mobile Disco e que depressa se torna disco de ouro e platina em vários países. “Brianstorm”, a primeira música e primeiro single deste segundo registo, carateriza-se por ter um forte riff de guitarra e por uma portentosa interpretação vocal de Alex Turner. “Teddy Picker” e “Fluorescent Adolescent” (escrita a meias com uma namorada de Turner na época) ilustram a simplicidade que carateriza o grupo de jovens ainda na casa dos vinte e poucos anos. Também nomeado para o Mercury Prize de 2007, acabou por não o vencer, mas ainda assim alcançou um Brit Award na categoria de melhor álbum britânico do ano. Ainda nesse ano, destaque para a presença da banda pela segunda vez em Portugal num Coliseu dos Recreios repleto, com uma plateia incansável e para a presença como cabeça de cartaz no festival de Glastonbury, onde tocaram para uma pateia intensa e que brindaram com a interpretação do tema “505” com a participação de Miles Kane, amigo pessoal de Alex Turner e antigo vocalista do grupo britânico, The Rascals. A colaboração entre os dois amigos dá aso à criação do projeto The Last Shadow Puppets. Temas como “Standing Next To Me”, “My Mistakes Were Made For You” e “Meeting Place” ilustram e destacam a enorme capacidade de Alex Turner em escrever e interpretar músicas. “The Age of The Understatement é o nome do registo discográfico lançado também pela Domino Records em 2008.
Em 2008, Alex Turner e o amigo Miles Kane criaram os The Last Shadow Puppets.
Sem tempo para grandes paragens ou férias, Alex Turner e os restantes membros dos Monkeys voltam imediatamente ao estúdio e lançam o seu terceiro trabalho de originais, Humbug (2009) que tem a particularidade de romper com o estilo de Rock praticado até então, soando mais a um rock psicadélico e talvez por isso, tenha sido o momento de viragem da banda, que a muitos desagradou. É também neste disco que se começa a notar uma forte influência de Josh Homme, uma vez que para além de colaborar numa das faixas, dividiu a produção do disco com James Ford. Alison Mosshart, vocalista dos The Kills deixou também o seu nome na lista de colaborações ao ajudar Alex Turner a escrever a faixa “Fire and the Thud”. Trabalhando sempre sob o selo da mesma editora, provam que é em “Crying Lightning” que o uso de guitarras com distorção é evidente. Mas que ao mesmo tempo conseguem fazer baladas, sendo o caso de “Cornerstone”, segundo single do álbum. O desagrado de alguns dos fãs foi evidente, que pediam um regresso ao estilo de música praticado anteriormente e que catapultou a banda para os tops musicais e para as bocas de todo o mundo. Apesar de não agradar a todos, a banda alegou que cresceu e que dificilmente voltaria a soar ao nível dos anteriores álbuns. Iniciando a promoção de Humbug” a banda toca em vários festivais da Europa, dos Estados Unidos e em 2010 toca pela terceira vez em Portugal, desta feita no Campo Pequeno, onde os aguardava uma sala lotada e onde os novos temas foram o ingrediente principal. O público português provou que em nada estranhou a mudança e acolheu os novos temas dos Arctic Monkeys com um grande entusiasmo.
Com o lançamento do seu terceiro disco: "Humbug", a banda alterou a sua sonoridade, levando ao desagrado por parte de alguns dos fãs.
Quando se fala nesta banda e na sua história, fala-se em Alex Turner classificado como um dos maiores compositores da sua geração. Tendo afirmado em entrevistas que se não tivesse seguido a carreira de músico, que certamente seguiria na faculdade o estudo da sua língua materna. Em 2011 demonstra uma vez mais que é no papel de liricista que se sente mais à vontade, lança a banda de sonora do filme “Submarine”, a primeira longa-metragem de Richard Ayoade, realizador de vários videoclips dos Arctic Monkeys, como é o caso de “Fluorescent Adolescent” e do DVD que a banda lançou em 2008 “Live at The Apollo”. “Pilledriver Waltz” é um dos principais temas desta interessante banda sonora, que ilustra uma divertida história de amor entre dois jovens.

Em junho de 2011, chega às lojas Suck It and See”, quarto trabalho da banda, desta feita gravado no mítico estúdio, Sound City (hoje extinto) na California e onde bandas como Nirvana, Queens of The Stone Age, Foo Fighters gravaram alguns dos seus principais discos. Sendo uma continuação do novo estilo dos Arctic Monkeys, o título do disco levantou alguma contestação por parte de algumas lojas discográficas americanas que colocaram um adesivo sobre o título do álbum, como forma de censura. Os membros da banda defenderam que não existia qualquer conotação sexual com o título e apesar de alguma discórdia por parte das várias entidades discográficas decidiram mantê-lo. “Brick by Brick”, “Don’t Sit Down Cause I’ve Moved Your Chair”, ou “Library Pictures” mostram um disco bem-disposto e classificam-se por serem faixas de certa forma aceleradas, que contrastam com “The Hellcat Spangled Shalalala” onde o ritmo mais lento e delicado, nos mostra uma constante alternância de estilos. O álbum foi bem acolhido pela crítica, tendo sido vendidas cerca de 154 mil cópias na primeira semana em todo o mundo, ainda assim longe dos tempos áureos de 2006 e 2007. A banda inicia a digressão de promoção do álbum e toca nos festivais britânicos de T in The Park, Reading/Leeds, Rock en Seine em França, Lollapalooza em Chicago, entre muitos outros. Também por cá passaram em julho de 2011, estreando-se pela primeira vez num contexto de festival, neste caso no Super Bock Super Rock, onde foram cabeças de cartaz da noite de 18 de Julho, lotando a Herdade do Cabeço da Flauta. Um concerto intenso, marcado por uns Arctic Monkeys competentes e onde a banda provou que cada vez mais, possui uma enorme legião de fãs no nosso país, esgotando qualquer sala ou recinto onde atua.

Quando em 2012 a música “R U Mine?” foi divulgada, muito se especulou sobre o novo trabalho dos Arctic Monkeys e para quando ocorreria o lançamento do novo registo. O ano de 2013 inicia-se e a especulação em torno de este tema aumenta de intensidade, com a marcação das primeiras datas em festivais. Em junho é divulgado aquele que seria apontado como o segundo single: “Do I Wanna Know”, que alcança um gigantesco sucesso, tornando-se para muitos como um chamamento para os Arctic Monkeys e para a sua música. No mesmo mês e seis anos depois, regressam ao festival de Glastonbury e novamente como cabeças de cartaz, num concerto brilhante que contou com um alinhamento onde os hits “A Certain Romance” e “Mardy Bum” voltaram a ser tocados e onde o público fez questão de expressar o excelente momento que a banda atravessa, provocando verdadeiras coreografias que facilmente nos fariam lembrar os importantes derbies do universo futebolístico. Um mês depois e à semelhança de 2011, Portugal recebe pela quinta vez a visita da banda que assume novamente o papel de cabeça de cartaz da primeira noite do festival Super Bock Super Rock. Esta foi talvez uma das melhores atuações dos Arctic Monkeys no nosso país, muito por culpa de Alex Turner, que deixou de ser o rapaz tímido de Sheffield que em tempos se limitava apenas a cumprimentar o público e a agradecer, e que hoje em dia se tornou numa das principais figuras do novo rock e um verdadeiro entertainer, dançando e saudando as várias plateias por onde o grupo tem passado. Vivendo atualmente em Los Angeles, os quatro membros da banda lançam o registo AM no dia 6 de Setembro de 2013 e afirmam que este álbum se distingue dos restantes por ter um registo mais dançável, opinião também partilhada por Josh Homme, amigo pessoal da banda que inclusive colaborou num dos temas do álbum: “Knee Socks”.
Sendo os seus principais singles: “R U Mine”, “Do I Wanna Know”, “Why’d You Only Call Me When Your’re High?”, “One for the Road”, o álbum foi bastante bem acolhido chegando mesmo ao número um de vendas, em diversos países.
Com o lançamento de "AM", quinto álbum, a banda mostra estar num dos seus melhores momentos de carreira.

Vencedores de dois Brit Awards na categoria de banda britânica do ano e álbum do ano, pela terceira vez e vencedores de cinco galardões dos prémios NME, os rapazes de Sheffield são acusados por muitos, de se terem convertido à cultura americana, mas muito apreciados por um outro público, um público novo que os vê como uma das bandas mais interessantes e fenomenais do momento.

Nós por cá, resta-nos aguardar ansiosamente pela sua presença já confirmada, na edição 2014 do Optimus Alive, onde se irão estrear e no papel de cabeças de cartaz.

Texto de João Fernandes

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